UNIASSELVI
– PÓS-GRADUAÇÃO
Turma:
NEUROINCLUS.1
Disciplina:
Abordagem em Neuroanatomia Funcional
Professor:
Rodrigo Sartório
Data:
06 de julho de 2015.
MARCO
AURÉLIO FERREIRA SANTIAGO
RESENHA:
O SOM DAS EMOÇÕES.
VIEILLARD,
Sandrine.Texto: O som das emoções. www.mentecerebro.com.br
“Boas músicas dão
‘barato’ ao cérebro. A boa música é aquela que dá trabalho ao cérebro na dose
certa e leva a ativação do sistema de recompensa: quanto mais intensa essa ativação,
mais intensa a sensação de prazer.” (Suzana Houzel)
O
texto de Vieillard conduz ao tema através de uma pequena história de um transeunte
que, ao andar pela rua ouve uma melodia emitida por uma flauta, o que lhe proporciona
uma agradável sensação e um leve arrepio, tão envolvente ao ponto de lhe provocar
um aumento do ritmo cardíaco. Então a autora busca a explicação para essa emoção
através de uma simples pergunta: Por que a melodia da flauta o mergulha em
contentamento?
O homem é
um ser musical, pois a música é a expressão artística há muito conhecida pelo ser
humano, faz parte da nossa essência, pois se prestarmos atenção nesse fator,
poderemos ver, ou melhor, sentir, que o nosso próprio corpo tem ritmo e ele faz
parte da nossa condição de estarmos vivos. Temos nossa pulsação que é
compassada e rítmica, nossa respiração, nossa forma cadenciada de andar, de
pronunciar nossas palavras, enfim, todos os nossos movimentos seguem o seu
padrão musical. O ritmo musical e o canto são maneiras de expressão entre os
povos, antes mesmo do desenvolvido da escrita. A música é apenas um fenômeno que
se utiliza de padrões sonoros para acionar a sensibilidade do nosso cérebro de
maneira que esse nos devolva emoções.
Com base
nesses princípios, os estudiosos do assunto aprofundaram-se nas pesquisas e
experiências buscando desvendar o poder e as funções da música em relação ao
nosso cérebro, onde nascem as emoções e os tipos de manifestação individual ou
coletiva.
O som tem
a capacidade de evocar lembranças e traduzi-las em manifestações físicas, como
arrepios e aceleração cardíaca, o que leva a considerar que a emoção musical é
um diálogo não verbal, capaz de regular o comportamento afetivo e provocar prazer.
A música
é um misto de movimentos, sons, silêncios e ruídos, tensão e relaxamento. Pode
ser de grande importância para qualquer idade, principalmente na fase inicial
da vida, podendo estabelecer laços emocionais, desenvolver atitudes e
atividades de grupo, interação e integração e tantas outras, além de ser um
estimulo acústico indutor de grandes emoções nos ouvintes, como visto em
diversos estudos sobre seus efeitos emocionais nos indivíduos, onde foram
mensurados em quatro emoções básicas: Alegria, Serenidade, Raiva (ou Medo) e
Tristeza.
Alguns
estudiosos entendem que a experiência emocional causada pelos sons musicais é
específica para cada ouvinte e variável de uma escuta para outra, mas pesquisas
mais recentes indicam que as avaliações emocionais de diferentes ouvintes,
incluindo aqueles que se baseiam em história pessoal, não dependem totalmente
de fatores individuais. Essa segunda hipótese é reafirmada pelos estudos do
grupo de Emmanuel Bigand, do Instituto de Pesquisa e Coordenação
Acústica/Música, onde concluem que as reações emocionais de músicos e de pessoas
sem formação musical são bastante parecidas, isso comprova que “a percepção das
emoções musicais é muito estável, tanto no plano individual como entre
diferentes ouvintes”, ou seja, “as emoções nascem das expectativas musicais
determinadas pelos momentos de tensão e relaxamento”, independente do ouvinte.
A música
pode, inclusive, ser utilizada como terapia, podendo desencadear emoções e
estados emocionais, onde pode ser criado um espaço potencial de acolhimento,
que poderá possibilitar a liberação das emoções que proporcionem o
aprimoramento e melhora das formas de comunicação ou desenvolver novas formas com
abertura para eventuais insights. A música pode ser portadora de
histórias, de sentimentos e valores, pois ela vem de cada um de nós, de forma a
contar a origem e a história de cada um.
Mas
não podemos esquecer que por trás de tudo isso está o nosso cérebro, ele
seleciona os sons e define o que é bom ou ruim para o nosso organismo, ele que
recebe os sons e os transforma em emoções. E aí entra aquele primeira hipótese
da individualidade na captação e resposta – som/emoção, pois cada cérebro tem
suas preferências particulares para o que será ou não considerado boa música, embora
alguns critérios sejam comuns aos mais variados cérebros.
Existem
músicas que chamam nossa atenção por possuírem uma estrutura melódica e
temporal complexa, o suficiente para que o processo automático de análise de padrões
feitos pelo cérebro, desde a primeira nota, tenha certo trabalho para criar
expectativas sobre como a melodia deve prosseguir. Esse é um processo não
consciente de tentar adivinhar as próximas notas e, eventualmente, acertar, o
que seria um grande estímulo ao sistema de recompensa, que mantém o cérebro
interessado em continuar a brincadeira e faz com que ele goste daquela música.
Por
outro lado, melodias simples ou notas isoladas, podem ser tão triviais que não
chegam a servir de estímulo ao sistema de recompensa. No outro extremo,
sequências com padrões complexos demais para serem descobertos pelo cérebro ou
com padrão nenhum, são frustrantes para o sistema de recompensa e deixam de ser
consideradas por não oferecerem nenhum prazer.
As
emoções, como fonte de prazer, também podem ter padrões diferentes, pois podem
ser boas ou não, causar riso ou choro, o que nos mostra que nem mesmo nosso
choro é realmente nosso, embora isso dependa da experiência pessoal e cultural que
desempenham reações individuais ou não, de acordo com a capacidade emotiva de
cada ouvinte.
O tipo da
música influencia no processo, pois quando a música quebra de repente seu
padrão esperado, o sistema nervoso simpático (o que provoca ações básicas como
acelerar o coração quando corremos, resumidamente) entra em alerta máximo,
fazendo o coração acelerar, o corpo suar e, dependendo do contexto, esse estado
de excitação pode ser interpretado como positivo (feliz) ou negativo (triste).
As músicas
emocionalmente intensas podem liberar dopamina no centro de prazer e recompensa
do cérebro (o núcleo accumbens). Isso nos faz sentir bem e nos motiva a repetir
o comportamento. Independentemente do tipo de música, triste ou feliz, o nível
de dopamina liberada é o mesmo, isso faz com que, quanto mais emoções a música
provoque, mais desejamos ouvi-la. Isso quer dizer que a música, no nosso dia a
dia, nos leva a um nível de resposta emocional intenso e raro, o que nos faz
querer experimentar essas sensações cada vez mais.
É
possível sentir um exemplo assistindo o vídeo da música “Someone Like You” de Adele,
que começa com um padrão suave e repetitivo, causando uma sensação de
tranquilidade, mas quando ela salta para as notas altas, aumenta o volume do
som, a harmonia muda, a letra se torna ainda mais dramática e cria-se um clima
sentimental e melancólico, causando, em pouco tempo uma série de variações
emocionais. Em pessoas mais sensíveis pode provocar lágrimas.
Depois
disso tudo, pode-se afirmar que a música é ‘mágica’, uma ponte que estabelece diversas
conexões inter e intrapessoais, pode ser nosso lugar seguro, ser portadora da
história de vida de cada um de nós, ser resposta a muitas de nossas
necessidades, auxiliar no desenvolvimento da nossa identidade, servir como
terapia, promovendo o alívio da ansiedade e do estresse, inclusive ajudar no
tratamento de outros tipos de traumas.
Quanto
mais música o cérebro ouve, mais aprende a encontrar e antecipar padrões em
melodias e ritmos cada vez mais complexos e, assim, mais músicas complexas quer
ouvir. Isso explica a afirmação da doutora Houzel de que “boas músicas dão
‘barato’ ao cérebro”, pois o ‘barato’ da música vem do trabalho que ela dá ao
cérebro. Se o cérebro tiver trabalho e gostar, será recompensado, então teremos
a nossa emoção.
Referências:
HOUZEL,
Suzana Herculano. Pílulas de Neurocência
para uma vida melhor. Rio de Janeiro: Sextante, 2009.
Fonte: http://mverzaro.com.br/archives/579 - Acesso em
28/06/2015.
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