CONTOS


AMIGO ESQUECIDO

 

Deitado no cantinho da sala, seu lugarzinho preferido, ele espera sonolento. Não quer dormir, cochila, mas com os ouvidos atentos ao menor ruído. Vez ou outra suas orelhas se movimentam.

O tempo passa. Ele senta, olha para os lados, cheira o ar e continua esperando. Se soubesse ler as horas já teria decifrado o som do tique-taque cadenciado e insistente daquele velho relógio de parede.

De repente algo chama sua atenção. Levanta e vai até a porta, encosta o nariz na soleira buscando um cheiro peculiar, as orelhas em pé tentando captar um mínimo ruído ou uma voz conhecida. O pequeno toco de cauda ensaia um movimento, pronto para manifestar sua alegria. Nada, parece que foi alarme falso.

Então ele vai até a sua vasilha de água, bebe uns goles, estica as pernas, cheira ao redor e volta para o seu cantinho. Não deita, permanece sentado e atento como se alguma coisa estivesse para acontecer.

Anoitece e ele, finalmente, adormece. Passam-se algumas horas. De repente, acorda num sobressalto, corre para a porta da sala, cheira o chão, percorre a casa, procura na porta dos fundos e em todos os cômodos da casa. Tudo fechado. Silêncio, apenas silêncio.

Ele volta para o seu cantinho, dessa vez tem uma aparência triste, as orelhas e o toquinho abaixados. Deita-se mais uma vez, está cansado, aos poucos é vencido pelo sono e só é acordado quando os primeiros raios de sol que entram pelos vidros da janela atingem seus olhos.

Levanta, espreguiça-se, vai até a água e bebe uns goles. Faz uma nova busca pela casa e, novamente, não encontra nada. Então, dirige-se à pequena portinha do fundo que costuma usar para sair e entrar na casa. Vai até a garagem: está fechada. Vai para o portão, olha a rua, senta e fica ali, esperando, encostado numa placa. Soubesse ler, entenderia o que está escrito: Vende-se.

 

O COCÔ DO CAVALO DO BANDIDO

 De repente tiros iluminam a noite, petardos explodindo, aqueles fantasmas pretos saindo de todos os lados ordenando aos gritos:
- Deita, deita, deita!
- Mão na cabeça.
- Cara no chão, Cara no chão!

Os rapazes, todos ainda muito jovens, inexperientes, assustados, não tiveram reação, ficaram imóveis, colados no chão com as mãos na cabeça.

Já passara da hora do jantar, todos estavam com fome, só tinham tomado o café da manhã. O almoço lhes fora negado porque não tinham cumprido a missão da manhã e estavam preparados para jantar, marmita na mão, os talheres articulados, o canecão para suco tão esperado, pois a última água foi ao meio dia, dois goles apenas, contados em coro com a cadência marcada pelo Sargento:

- Um gole…dois goles, passa o cantil. Um gole…dois goles, passa o cantil, e assim até o cantil chegar, quase vazio, ao último homem do Pelotão.

O pior era continuar com sede e ver o resto da água escorrer para o chão sob o sorriso sarcástico do Sargento:

- Que pena, não tomaram toda a água. Vocês não querem que eu beba o resto de vocês, não é?

A surpresa estava armada. Os pobres homens que esperavam jantar, foram atacados pela tropa inimiga, tiveram todo seu material apreendido, foram amarrados, encapuzados e conduzidos por uma trilha escura através da densa mata. Após meia hora de marcha alguém gritou:

- Prisioneiros. Alto! Vocês agora serão desamarrados, sentem no chão e só tirem o capuz quando receberem ordem.

Fez-se um longo silêncio, até que veio a ordem:

- Prisioneiros, retirem os capuzes.

Todos sentiram a luz forte dos refletores, mas aos poucos foram acostumando a visão e puderam ter a ideia do que os esperava. Eles eram trinta e dois alunos do curso de formação de sargentos que estavam realizando o estágio de combate, última fase da instrução militar básica.

Encontravam-se sentados em torno de um cercado de arame, quadrado e com, aproximadamente, cinco metros de lado. O espaço parecia bom, mas no centro tinha uma piscina de lama, que deixava menos de um metro de borda para ficarem. Um descuido ou se dormissem, cairiam na piscina.

A região era de serra, o mês de julho, portanto a noite estava fria. Não seria nada agradável passar a noite coberto de lama.

- Atenção prisioneiros! Disse o líder dos inimigos.

- Isso mesmo, vocês não são mais soldados, agora são prisioneiros de guerra. Vocês são porcos e porcos não têm direito a nada. Vocês são: o cocô do cavalo do bandido.

- Agora podem dormir. Se alguém tiver a triste ideia de fugir, temos armadilhas e homens armados cercando o acampamento.

Dormir? Ótimo, pelo menos os prisioneiros poderiam descansar, embora a fome já estivesse se tornando uma tortura para eles. Mas, de repente uma música começou a tocar, a pior música que eles já ouviram. Era uma espécie de hino, cantado aos berros por péssimos cantores e em volume altíssimo.

Assim passou aproximadamente uma hora. Os homens cansados, mesmo com a música horrível pegaram no sono.

De repente o céu desabou, petardos começaram a explodir dentro da piscina, jogando lama para todo lado, tiros e gritos:

- Acorda, porco! Acorda, porco!

E assim como começou, tudo acabou de repente, silêncio absoluto, até a música parou. Ninguém sabia o que fazer, a situação era difícil: lama para todo lado, corpos molhados, fome, frio. A ficha caiu, estavam num campo de concentração.

Não houve mais sobressaltos. A longa noite passou e os primeiros raios de sol eram um alívio para os prisioneiros, até que o inferno começou. Começou a terrível música, os tiros, os petardos e os gritos:

- Acorda! Acorda porco. Hora da lavagem, anunciava o líder mascarado. Sei que vocês estão com fome, então vamos servir um lauto banquete para vocês.

Aquela frase foi estimulante para os rapazes: café, até que enfim.

Então chegaram mais dois encapuzados carregando uma grande caixa de papelão:

- Olha o café porcada.

As bananas foram jogadas no meio da piscina. Todos ficaram olhando atônitos, ninguém se movia, até que o líder gritou:

- Então não querem café? Pois bem, vamos recolher.

E os prisioneiros entenderam, jogaram-se na lama para apanhar as bananas, enquanto os inimigos divertiam-se com a cena. Dava para perceber, pelas caras de satisfação, que aquelas eram as bananas mais gostosas que eles comeram na vida.

Nessa rotina, entre xingamentos, gritos, tiros e petardos o dia passou. Os porcos não tiveram direito à ração do almoço, apenas alguns goles de água.

Nova noite longa e difícil se anunciava, mas no pelotão havia quatro amigos que lembraram das instruções recebidas em sala de aula: todo prisioneiro de guerra tem obrigação de tentar fugir.

E fugiram. No meio da noite houve mais uma confusão, mas dessa vez os gritos do inimigo eram diferentes:

- Ataque! Ataque!

- Estamos sendo atacados.

Na correria parecia que ninguém dava atenção aos prisioneiros, então os amigos aproveitaram a chance, passaram por baixo da cerca e correram para a mata deixando para trás os tiros e petardos. Na escuridão da mata, apenas correram, sem pensar, sem olhar para trás. Nem mesmo ouviram os últimos gritos:

- Esperam soldados. Voltem. Somos amigos. Recuperamos o campo.

 
A SORTE DE UM RETIRANTE

(José Raimundo Moreira - 2010)

 Durante os festejos na cidade de Vereda, cidade do interior, distante, muito distante da cidade grande, um bocado de linha de trem. O seu padroeiro, São Bento de Vereda, tem a honra de receber todos seus fiéis. São nove noites de pura fé e veneração ao Santo milagroso. Romarias não param de chegar e vão logo fazendo o sinal da cruz, pedindo a bênção e a proteção divina. Está armado o cenário perfeito para mais uma manifestação popular e de religiosidade: praça enfeitada com bandeiras de várias cores; fanfarras, coreto… Mas logo ali, recostado ao pau de sebo, estava um sujeito franzino, alheio a tudo, pensativo… Mal sabia escrever o nome; sem profissão definida, chamado Zé Mandinga. O porquê do apelido, ninguém sabe. Eis que surgiu um cidadão bem vestido, elegante e bem situado na sociedade, amigo de infância de Zé Mandinga, também mais conhecido pela alcunha de João do beco. Este se aproximou do velho amigo e gritou: “Zé Mandinga”!… “Quero levar um dedo de prosa com você”. Zé Mandinga, impassivo, mas fiel ao amigo de tantas jornadas lúdicas, e surpreso com o que estava acontecendo, murmurou… “Talvez seja meu dia de sorte”. E aceitou prosearem:

- o que o patrão deseja, perguntou Zé Mandinga.

- Ajudá-lo, respondeu o patrão.

- Uuuum! Ajudar… Estou cheio de promessa. Ajudar como?

- Aqui está meu endereço: rua da pedra, nº 36, quadra H, esquina com Av. São João – Vila Camélia – São Paulo – Brasil, escrito num pedaço de papel.

Vou te aguardar lá. Zé Mandinga era filho único. Órfão de pai e mãe. Ele não tinha nada a perder. Aceitou o desafio. Antes, procurou o pároco da cidade, e fez sua última confissão. Durante a confissão dava para se perceber que o representante de Deus só balançava a cabeça, como se estivesse desaprovando as últimas atitudes de Zé Mandinga. É chegada a hora. Partiu. Toda cidade aplaudiu a decisão heróica de Zé Mandinga. Era sua última chance. Mas o pior estava por vir: displicentemente, inebriado pelo aceno provocante das paisagens, ele retirou o endereço do bolso, imaginou ser um abade (papel fino ou mortalha), fez um cigarro com fumo picado e seco (fumo de molho) e começou a pitar. “Delícia… Estou chegando”. “São Paulo é linda”! Só depois de alguns minutos soubera que sua última tragada acabara de queimar o “- Brasil”, designação final do endereço. Mas quem disse que isso o intimidou? No destino final, ao saltar do penúltimo vagão do trem, abordou, de cara, um paulistano desconhecido:

-Patrão, onde mora João do beco? Perguntou Zé Mandinga.

-Mora na minha rua… É meu vizinho, respondeu o paulistano.

-Obrigado meu pai!… Que sorte de um retirante – Desabafou Zé mandinga.

 O LIMA ONÇA

 Abril de 1988, Base Aérea de Manaus, eu esperava o avião da FAB que me lavaria para São Gabriel da Cachoeira – AM, que fica aproximadamente a 1000 Km da Manaus, na direção da fronteira com a Colômbia, área conhecida como “Cabeça do Cachorro”. Nessa ocasião conheci meu amigo Lima, baiano de Salvador, ótimo sujeito. Na época éramos sargentos e iríamos integrar o efetivo pioneiro do recém criado 5º Batalhão Especial de Fronteira/5º Comando Rio Negro, que tinha a missão de guarnecer as fronteiras daquela região.

Quando chegamos existia, apenas, a 5ª Companhia Especial de Fronteira, com um efetivo de 6 oficiais, 12 sargentos, alguns cabos e soldados engajados e 30 soldados recém incorporados, todos indígenas das diversas tribos locais.

Estávamos todos solteiros, mesmo os casados tinham deixado as famílias para trás, então morávamos todos no quartel, e quando acabava o expediente e não tínhamos mais nada para fazer, costumávamos ir para a “cidade”, tomar uma cerveja, bater um papo e depois íamos dormir.

Acontece que a cidade ficava a três quilômetros da nossa sede, estrada de terra, cortando a selva amazônica; a noite corria-se o risco de topar com uma jiboia ou até uma onça. Então sempre voltávamos em grupo, era mais seguro. Fazer aquele trajeto no meio da noite e sozinho, só para índio muito corajoso, e para completar andava um boato de que havia uma onça naquelas bandas. Alguém viu.

Mas voltemos ao caso do Lima Onça. Era uma noite escura, armava-se um temporal, trovoadas e relâmpagos, muito comum naquela região. Eu estava de serviço de comandante da guarda e fazendo meu turno de permanência na entrada do Batalhão.

Meu amigo Lima, que até aquele dia era chamado de Lima Baiano, naquela noite não sei o porquê, resolveu voltar sozinho para o Batalhão, e foi justamente nessa noite que o caso aconteceu.

Pouco antes das nove horas da noite, eu estava no portão conversando com a sentinela, quando um soldado apresentou-se a mim pedindo permissão para sair do quartel:

- Você vai aonde? Perguntei.

- Vou dormir na Companhia de Engenharia, amanhã tenho missão. (a Companhia de Engenharia ficava a um quilômetro do Batalhão, na direção da cidade e pela mesma estrada).

- Tudo bem, eu disse, mas tome cuidado, nessa hora não é bom andar sozinho nessa estrada.

- Certo sargento, fique tranquilo, vou correndo.

Alguns minutos depois o soldado já tinha desaparecido na escuridão da selva. Eu e a sentinela continuamos nosso papo. Ficamos ali conversando, por aproximadamente meia hora, quando de repente, ouvimos barulho de alguém correndo nas pedras. O mesmo soldado que saíra antes surgiu correndo, entrou direto pelo portão e, ofegante, balbuciou: - Escapei por pouco sargento, tinha uma onça na ponte.

Após tomar fôlego, continuou: - Quando cheguei na ponte ela vinha do lado da cidade, bem pelo meio da estrada. Quando me viu parou, se abaixou e ficou quietinha, só me esperando, bem na entrada da ponte.

- Mas como você sabia que era a onça? Perguntei.

- Pois quando cheguei na ponte e vi que ela parou, eu também parei, esperei uns minutos e como ela não se mexeu, resolvi espantá-la. Arrastei os pés no chão com força e gritei bem alto, Huaaaaaá!

- E ela correu? Perguntei.

- Ela respondeu com um “esturro” e saltou. Não esperei para ver, me mandei de volta.

Passado o susto, o soldado resolveu dormir aquela noite no Batalhão e voltou para o seu alojamento, enquanto eu e a sentinela ficamos a comentar o fato. Acontece que mais meia hora depois, chega o meu amigo Lima; ele era moreno, mas naquela noite estava pálido, olhos arregalados, respiração ofegante. Olhou para mim, sentou, pediu água, respirou fundo e disse: - Barbaridade gaúcho, desta vez escapei por pouco. Não é que dei de cara com a onça, agora a pouco lá na ponte.

Eu e o guarda nos olhamos, cada um pensando: será a mesma onça? E o Lima continuou:

- Nunca mais volto sozinho. Quando cheguei na ponte a danada vinha do outro lado e quando me viu parou, se abaixou e ficou quietinha. Passou um pouco ela “esturrou” e veio para o meu lado.

Quase rindo eu perguntei: - E você, correu para cima dela também?

- Nada, soltei um berro para assustá-la, corri um pouco e me joguei no lado da estrada e fiquei ali, deitado por um bom tempo, até ter certeza que ela tinha sumido. Então levantei e dei um pique até aqui.

Olhei para a sentinela e rimos. Bati nas costas do Lima e falei: - Fica frio meu amigo Lima Onça, a “onça” que te assustou já está dormindo lá no alojamento dos soldados.

 Marco Aurélio Santiago (12/11/12)

 
A CORAGEM DO MANO VELHO

Moreira, meu grande amigo, velho companheiro de trabalho e de caminhadas, a quem eu chamo de Mano Velho, durante nossas andanças, sempre me brindava com alguns casos do seu tempo de infância e de juventude.

          Um desses casos, até hoje me faz rir, e olha que ele me contou já faz uns quinze anos, é o caso do corajoso e o saco plástico. Esse ele me contou numa daquelas lindas manhãs de domingo banhadas pelo sol nordestino, foi durante uma das nossas caminhadas no parque do Pituaçu em Salvador. É claro, de um jeito que só ele sabe contar.

          O Mano, cabra valente lá de São Bento, interior do Maranhão, atarracado, metido a forte e muito divertido, na juventude era conhecido por Zé Raimundo, e na época tinha uma pendenga com um tal de Pedrão, se não me engano por causa de uma namorada (esclareço: isso aconteceu muito antes do Mano conhecer Donana, com quem hoje está muito bem casado. – Limpei tua barra hein Mano Velho). Morena bonita, namoradeira, que todo mundo botava o olho. Mas aí, largou do Pedrão para namorar o Zé Raimundo; é claro, o Pedrão não gostou, e um dia passando pelo meu mano ameaçou: - Te cuida cara, numa dessas encruzilhadas a gente acerta as pontas.

          O Mano ficou com aquilo gravado, e sabendo que o Pedrão andava sempre armado, resolveu que a partir dali, também iria carregar seu velho 38 que herdara do avô.

Num desses bailes de sábado, lá estava o Zé Raimundo todo feliz dançando com sua morena, quando de repente, vê o Pedrão parado na porta com um olhar daqueles, tipo, “é hoje”. Isso lhe causou um "frio na espinha" e antes mesmo de terminar o baile, juntou a morena e saiu de fininho; deixou-a em sua casa e apertou o passo, não morava longe, mas naquela hora os quilômetros se multiplicaram, não via a hora de chegar em sua casa.

          Acontece que para chegar a casa, tinha que passar por uma "bendita" encruzilhada escura, que lhe fazia o joelho tremer toda vez que por ali passava. Nessa noite ventava forte, fazendo com que o uivo do vento arrebatasse o que lhe restara de coragem, e olha que era muita, segundo ele.

           Não há de ser nada, pensou, o "três oitão" do vô tá aqui comigo e se precisar ele vai "berrar".

         Logo após passar um “mata burro”, o coração do Zé Raimundo dá um salto. A poucos metros, no escuro, ele percebe um vulto todo de branco, que num rápido movimento se abaixou.

          - Ai minha Santa, é ele! Pensou o Zé, valha-me São Bento.

          E não teve dúvidas, se jogou no chão e sacou o "38", então, num arremedo de coragem gritou:

          - Ô Pedrão! Tô te vendo e vou avisando, também estou “ferrado”, vai embora e está tudo certo.

         Sem resposta. O Pedrão dá uma balançada como quem vai correr, mas fica ali quietinho, não diz nada, vez ou outra parece levantar e abaixar a cabeça, espiando o assustado Zé Raimundo, que resolve dar mais um aviso:

        - Tô avisando cara, me deixa em paz, tô armado mesmo, quer ver? “Pá”, o velho "38" era bom mesmo, estouro forte, um clarão que faz qualquer valente correr, mas o Pedrão ficou ali, abaixadinho, só deu um pulinho, mas não correu.

         O Mano esperou a resposta, colou no chão, mas o tiro não veio. Então pensou: ele não deve estar armado, vou botar ele para correr de uma vez por todas, e “pá... pá... pá... pá"! Quatro vezes o velho "38" berrou. Não tem valente que fique parado, ouvindo o assobio da bala passando.

          Dessa vez o Pedrão correu, saiu pulando, corria, parava, mas de repente virou para o lado do Mano e veio. Zé Raimundo gelou, e agora só tenho mais uma bala, pensou, mas aí vai, "pá"! Deu o último tiro e se jogou no chão, rosto colado, rezando para São Bento, e ali ficou esperando. O vento continuava uivando, a noite parecia mais escura, até que ouviu um barulho na cerca, mas manteve a coragem... não se mexeu.          Passaram-se uns cinco minutos. Nada de tiro e nada do Pedrão. Devagarzinho o Moreira levantou a cabeça e no escuro, finalmente pode ver. A dois metros dele, grudado na cerca de arame, o Pedrão: – Valha-me São Bento!

         Um saco de plástico, desses de adubo usado na lavoura, balançava ao vento preso na cerca de arame, com pelo menos, dois buracos de bala.

          O Mano Velho só contou essa história para mim (nem Donana sabe), e pediu segredo, portanto, é em segredo que eu estou lhe contando.

Marco Aurélio F. Santiago.

5 comentários:

  1. Amigo esquecido,chega doer lembro de que muitas vezes,deixo o nosso Black assim sozinho,muito bom e verdadeiro,chego a imaginar o bichinho e da vontade de saber o endereço para ir buscá-lo.Dá o que pensar.

    ResponderExcluir
  2. "Amigo Esquecido" me faz recordar de nossas parcerias, de nossos desatinos e momentos únicos, vividos por uma turma que marcou a minha história!

    ResponderExcluir
  3. Bem, na verdade, um certo capitão marcou nossa história!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Agradeço a visita e os comentários. Realmente, a nossa turma de letras deixou marcas inesquecíveis, que me permitiram sentir mais jovem e com muito mais vontade de continuar sempre. Mas não teríamos sido uma boa turma, se não tivéssemos, além de uma ótima professora, uma amiga e valiosíssima orientadora.

      Excluir