CAUSOS DO PENTIADO

Esta página contém textos de Jorge Alberto Martins Pentiado, natural de Santa Maria-RS, meu velho companheiro de EsSA 77 (Aluno 623 - PENTIADO, do Curso de Engenharia). Hoje o "cabra" nos abandonou e resolveu seguir o caminho das leis, mas se deu bem "está rico". 
Eu sabia que ele é um grande caricaturista, mas desconhecia esse dom para as letras. Adorei seus causos e estou compartilhando com meus leitores. 
Bom proveito.




Causos do Pentiado (também conhecido como Jorginho da Frederinda)

Caso 1

No Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA) tive um colega chamado Cedrick Rainischi (ou algo parecido). Muito amigo, mas não dava importância alguma para o uniforme ou para sua apresentação pessoal. Também muito inteligente e muito rico. 

Quando seu pai o levava para o CMPA, passava pela avenida Getúlio Vargas recolhendo todos os alunos que cabiam no seu carro, um Galaxie 500, preto e com motorista particular.
Pois bem, assumiu a presidência da República o General Costa e Silva e, num de seus atos resolveu visitar o CMPA, onde estudou quando mais novo. Na formatura, todos os alunos de túnica branca e calça garance. Costa e Silva falou que gostaria de abraçar aluno por aluno, mas daria esse abraço simbolicamente, abraçando o aluno que naquele momento tinha o seu número de quando fora aluno. 

Aluno 911 – Cedrick, chamaram no microfone. E ele não atendeu. Um sargento me perguntou: - Onde está o Cedrick? (ele era da minha sala). Respondi que sabia onde ele estava e iria buscá-lo. Sai de forma e fui até o banheiro que ficava no segundo andar do CM, perto da Seção Técnica. Com muito custo levei-o até o local da formatura.
Cedrick estava com o uniforme totalmente diferente, estava trajando o uniforme dos dias comuns: calça e camisa caqui e boina vermelha. Assim mesmo ele apareceu na capa da revista Manchete abraçando o Presidente da República. Desse dia em diante ninguém mais perturbou o aluno Cedrick em relação a seu uniforme, pois havia ganhado um protetor - Costa e Silva.

Caso 2

Um dia, após as aulas no CMPA, chegando em casa no bairro Menino Deus, para almoçar, já no corredor do edifício fui tirando a roupa, tirei o bibico, tirei a camisa caqui e fiquei com a camiseta branca com uma enorme estampa: AL. 190 PENTIADO. Entrei no apartamento, tirei os coturnos e coloquei um chinelo de dedos e, exatamente nesse momento minha mãe falou: - tome um táxi e leve seu irmão para o CMPA (ele estudava no horário da tarde e era o AL.1 - PENTIADO). 

Não teria problema, iria de táxi e voltaria nele mesmo. Então, chegando no CMPA o taxista falou: - Desça e tome outro táxi, não posso voltar para o Bairro Menino Deus. Com muito esforço consegui que ele me deixasse na parte de trás do CMPA, mas assim que desci do táxi, passou um jipe do Exército com o Coronel Jonas de Morais Correia Neto, meu comandante. Lentamente ele passou olhando para meu rosto e para meu nome estampado na camiseta. Como explicar o inexplicável. 

Durante a formatura da manhã seguinte, chamaram meu nome. Sai de forma e me posicionei ao lado esquerdo do comandante, uma posição para quem tivesse um destaque negativo no dia anterior. Era eu. Então o comandante falou: 

- Encontrei esse aluno ontem, nos fundos do CMPA, “totalmente pelado”.

Caso 3

UM HOMEM DE MEIA IDADE. Complicado isso.

Se um homem durar 30 anos, sua meia idade será aos 15. Uma boa idade, tudo funciona espontaneamente e não quer parar de funcionar.  Quando eu era guri o tal de espontâneo levantava por conta própria e até me causava constrangimentos. Hoje o tal de espontâneo causa constrangimentos por nem se mexer.

Se durar 100 anos então, a meia idade será aos 50. Também uma boa idade, mas nem tudo funciona mais como aos 15. Inegavelmente a melhor meia idade ocorre entre os 20 anos e os 30 anos; nesse espaço de tempo o homem namora, casa, tem filhos, estuda, trabalha e busca uma posição social; as 24 horas do dia parecem ser 48 horas. O tempo sobra, mesmo fazendo tudo o que precisa ser feito.

Mas a meia idade dos 50 anos já representa tudo pela metade: meia idade, meia careca (cabelo só dos lados), meia força (os braços já estão cansados e a coluna não aguenta mais), meia bunda (a outra metade já caiu aumentando o tamanho das costas), meia visão (os olhos agora só com óculos), meio tesão (a vontade já não é a mesma, evidentemente), meia mole, meia dura (precisa explicar?), meias pregas (pois é uma flatulência só).

E ainda tem mais: o nariz fica cheio de pelos, as orelhas voltam na cadeia evolutiva e ficam cabeludas, iguais às dos macacos, a barriga cresce e vai virando uma bola de gordura e merda debruçada sobre o cinto. E tem coisa pior: que dificuldade para colocar os sapatos ou tênis e amarrar os cordões.

Mas nem tudo é tristeza, nessa meia idade o homem já atingiu e conquistou seus objetivos; como um carro esporte (dos caros), Mercedes Benz ou uma BMW. Embora exista só mais uma dificuldade: sair do carro. Parece que a bunda gruda naquele banco afundado e haja força para descolar. Daí a preferência dos homens mais velhos pelas caminhonetes, pois já descem em pé, simplesmente escorregando do banco.

O conhecido Zeca Pagodinho definiu que “homem com mais de trinta anos, sem barriga ou é pobre ou é viado”. Então, não falem mal da minha barriga. Deus me fez assim e qualquer reclamação deverá ser feita diretamente com Ele.

Continua (quando eu conseguir, afinal, sou um escritor de meia idade).

Caso 4

Duas pessoas em uma (não confundir com pessoa bipolar).
Primeira parte
Nos idos de 1972, estudar geometria no Colégio Militar era coisa séria. O professor de desenho explicou que “paralelas” são duas retas que só se encontram no infinito. Eu forçava meu pensamento em direção ao infinito e não via essas duas retas paralelas se encontrarem. Elas continuavam sempre paralelas.
O professor cortou uma fina tira de papel e numa das bordas pintou de uma cor (dos dois lados da tira) e na outra borda pintou com cor diferente (também dos dois lados). E então montou com a tira o símbolo do infinito: com isso, e de forma simples, aquele velho Coronel do Exército demonstrou que duas retas nem sempre são retas e se encontram apenas no infinito.
Você, sim você mesmo que está lendo, é exatamente a essa tira de papel com duas faces e com duas bordas coloridas.
A borda azul representa a vida que você leva, que você vive com seus amigos, parentes, filhos e filhas, marido e mulher, namorado e namorada. Essa borda azul é exatamente igual a como todos lhe conhecem: médico, enfermeira, advogado, advogada, professor, professora, casados, separados ou divorciados, ou união estável do tipo “tico-tico no fubá” ou “saudades do matão” (se não souberem a diferença cantem as músicas e entenderão).
A borda em cor laranja é extremamente especial. Ela representa quem você é de verdade. Ela identifica seus segredos mais íntimos. Ela representa sua vida verdadeira, ela representa sua alma. E é exatamente nessa vida da cor laranja que você vive com plenitude, ninguém lhe atrapalha. Você tem o controle absoluto. E nessa vida as pessoas que lhe cercam são todas boas e também verdadeiras.
Em algum momento uma pessoa se aproxima e diz: uma moeda por seus pensamentos...
Eu não estou pensando. Eu estou vivendo minha outra vida e essa vida é só minha e não está à venda e não tem preço. É nessa vida que as pessoas saem de suas gaiolas douradas (não confundir com veados saindo de armários, pois isso ocorre na vida normal e não na vida especial) e arriscam aos voos mais elevados.  O cantor inglês Elton John até produziu uma música – Skyline Pigeon – mostrando claramente o que é sair de uma gaiola e voar sobre o infinito.
Normalmente as pessoas falam: vocês não me conhecem ou vocês não me entendem. Presentes então duas razões diferentes. Se você é feia, bonita, gorda ou magra isso é o que você mostra na sua vida da cor azul. É isso que as pessoas conhecem ou desconhecem. Eu posso ter adicionado uma pessoa no face e só conheço o seu rosto, não sei como ela é e talvez um dia eu possa conhecê-la. Mas conhecer uma pessoa é muito diferente de entender uma pessoa. O entendimento sobre uma pessoa está relacionado a saber com exatidão o que essa pessoa apresenta em sua vida laranja, saber até onde seus voos a levam.
Uma determinada pessoa fala: vocês não me entendem. E não entendem mesmo. Ninguém entende ninguém. Entre o conhecer e o entender existe uma porta fechada a sete chaves, impenetrável. É o que os psicólogos fazem, tentam abrir essas portas, tentam conhecer as pessoas. Continua...

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