TEXTOS
REFLEXIVOS
DE
HELENA MARTINS – PROFESSORA DA EBM TIRADENTES E PROF. JÚLIA
STRZALKOWSKA – BLUMENAU - SC – 22-09-25
POR
QUE ESTOU AQUI (REFLEXÃO)
Desde
o instante em que somos concebidos, inicia-se uma longa jornada. Às vezes
interrompida antes do tempo, outras prolongada pelos anos, mas sempre carregada
de perguntas. Por que estou aqui? Qual o sentido da minha existência? Há uma
busca constante por respostas, como se a mente pedisse para transformar dúvidas
em certezas, em verdades. Nossa verdade. Ainda assim, permanecemos mergulhados
em devaneios, inquietos diante das incertezas que a vida nos impõe.
Estamos
aqui. Conseguimos chegar. Fomos escolhidos para percorrer essa incrível jornada
— e então surgem novas perguntas: - E agora? Como conduzir essa orquestra?
Quais músicos escolher? Quais melodias tocar?
Foi
assim, incomodada por esse pensamento, que busquei no papel e na caneta,
aliados para tentar responder a mim mesma, ainda que seja tão difícil encontrar
respostas que aquietem o coração.
A
jornada começa após o nascimento e segue até o último sopro de vida. Seja curta
ou longa, leve ou dolorosa, é o modo como nos posicionamos, as escolhas que
fazemos e a maneira de enxergar e agir que definem a dança para a qual somos
convidados a participar: a dança da vida. Uma vida cheia de descobertas,
sonhos, aventuras, capazes de nos levar além do que imaginamos.
Onde
realmente começa e onde termina essa jornada, não sei. O que sei é que estou
aqui, vivendo, sentindo e presenciando o extraordinário dessa caminhada, que
nos apresenta: pessoas, circunstâncias, encontros e desencontros; que nos fazem
refletir sobre a grandeza do universo e o convite constante que ele nos faz: o
de desbravar. Tudo isso só é possível porque estamos em movimento — nessa
viagem única chamada jornada da vida.
Helena Martins.
(22-09-25)
"CARTA DE BOM DIA À MÃE
MARIA".
O sol desperta lentamente, tímido, esconde-se
na plenitude em meio às paisagens do horizonte. É outono, não está frio, tão
pouco calor, as árvores quase desnudas, pois a cada novo balançar, mais folhas
cobrem o chão, como um belo manto outonal.
Mais um dia, e a tranquilidade dos pássaros se faz presente,
misturando-se ao cheiro da manhã e ao vento que dança no espaço. O dia começa,
e com ele a saudade chega. Já não há mais como fugir: uma nostalgia toma conta
dos meus pensamentos.
Lembro-me dos tempos em que acordava com o
cheiro do café e o carinho de mamãe ao despertar, colocando diante de mim um
bom dia com um abraço gostoso e uma xícara de café nas mãos. A falta e a
saudade apertam o peito, trazendo a vontade de ouvir sua voz, sentir seu amor,
seguir seus conselhos.
Papel e caneta em mãos, decido escrever uma
carta de bom dia à minha mãe.
Bom dia, mãe, minha mãe Maria. Hoje acordei
lembrando o quanto te amo.
Me conta, como estão as coisas por aí? Você
seguiu todas as recomendações médicas? Meus irmãos estão bem? Aqui, o dia segue
passando, e vou deixando a vida se reinventar. No café da manhã, às vezes
gostaria que fosse mais demorado, mais cheio de pausas. Pego a caneca e, entre
um gole e outro, penso em você mãe.
Há um vazio que preenche meu peito e, ao mesmo
tempo, uma gratidão enorme por tudo o que vivi ao seu lado. Às vezes, até as
lágrimas me escapam sem pedir licença, deslizando entre os olhos, como se
buscassem alcançar o abraço que só você sabe dar.
A saudade dói, mas é também força. É ela que me
leva adiante, que me impulsiona a acreditar na minha própria capacidade de auto
entendimento e cuidado. Afinal, foi isso que vim buscar, autoconhecimento,
maturidade para aceitar cada adversidade que a vida me revela.
Tão difícil decidir caminhos. Tão difícil
acertar o atalho que me levará ao meu destino... Longe, entre estranhos, me
pego lembrando do calor de casa, das
conversas sem pressa na varanda, da despedida dos amigos, do abraço apertado de
quem amo.
Sigo aqui, com as minhas lutas internas, em
busca de respostas. Continuo no meu retiro, onde o silêncio fala mais do que
palavras. Onde o tempo é aliado para o entendimento. A cada manhã, quando o sol
toca meu rosto, lembro de você, mãe, e do quanto sua presença me guia, me
sustenta e me abraça.
Dias à frente estarei de volta, e sei que
poderei contar tudo pessoalmente. Sei que poderei olhar seu sorriso e dizer que
até aqui o teu amor me fez seguir. Até lá, carrego comigo sua imagem, seu
cuidado, sua voz mansa e firme, que sempre soube me dizer o que fazer.
À noite, quando o corpo pede descanso, penso em
você. Imagino suas mãos delicadas preparando o café, regando as plantas,
organizando a casa, chamando a família para o jantar. Queria largar tudo e
simplesmente voltar para casa, ao seu colo, ao aconchego que só uma mãe sabe
oferecer.
Voltar ao carinho e ao olhar de cuidado de
mamãe Maria. Ali é meu refúgio, ali é meu porto seguro. Ali é onde mais desejo
estar. Ali é onde quero voltar, e nunca mais me afastar, da minha casa, da
minha vida, da minha mãe Maria.
O SILÊNCIO QUE ME ECONTROU
Uma semana sem a presença diária do meu marido.
Ele, em viagem com a família, vivendo momentos
que também lhe são sagrados.
E eu… aqui.
Na presença de mim mesma.
Não foi solidão. Foi encontro.
Encontro com o silêncio, com a calma, com
aquilo que mora em mim e que tantas vezes deixo para depois.
Uma pausa necessária, um espaço onde a voz de
Deus ecoa baixinho — mas tão claramente.
Foi um tempo de escuta.
Escuta da alma, dos pensamentos que só
florescem na quietude.
Descobri que consigo, e mais do que isso,
preciso.
Preciso me afastar um pouco para me reencontrar
inteira.
Na ausência do outro, percebi a presença
profunda de mim mesma.
E isso foi cura.
Foi paz.
Foi cuidado.
Foi bom para mim.
Foi bom para nós.
Porque amor também se fortalece no espaço que
se dá,
no respeito pelo tempo de cada um,
na liberdade de sermos completos antes de
sermos dois.
Volto mais inteira.
Mais serena.
Mais minha.
E mais pronta para amar.
– Helena
O CONFRONTO
Há uma estranha sordidez que se revela quando
alguém, acuado, é forçado a encarar a verdade das próprias mentiras. O brilho
artificial das falas forjadas se desfaz, e a máscara cuidadosamente sustentada
começa a ruir diante da realidade. Nesse instante, a fragilidade se mistura ao
desespero, e as justificativas se confundem com contradições, deixando à mostra
um vazio que antes se escondia atrás de narrativas bem ensaiadas.
Aquele que se vê confrontado com as próprias
falcatruas descobre que a mentira tem fôlego curto e que a verdade, silenciosa,
é paciente. O desconforto não vem de fora, mas de dentro: é a consciência
cobrando, é o peso de uma vida que se apoiou em ilusões frágeis demais para
sustentar-se no tempo.
Esse espetáculo de autodestruição não exige
aplausos. Pelo contrário, serve como alerta para quem observa de longe: não
vale a pena se perder em labirintos de falsidade. Mais sábio é cultivar a
serenidade de quem vive em paz consigo mesmo, sem precisar temer o momento em
que o espelho da vida reflita o que realmente é.
O INIMIGO SE REVELA
Há momentos em que a vida nos concede o
privilégio da revelação. O inimigo, seja ele uma pessoa, uma situação ou até
mesmo um pensamento interno, não consegue se esconder por muito tempo. Ele se
entrega nas pequenas frestas: no olhar que acusa, na palavra que tropeça, no
gesto que denuncia. A incoerência do discurso e a auto traição inevitável fazem
com que, sem perceber, se mostre por inteiro.
Quando isso acontece, não é motivo para raiva,
mas para clareza. A máscara cai e o que parecia dúvida se torna evidência.
Saber com quem — ou com o quê — se está lidando permite preparar o coração e a
mente. É nessa hora que nasce a oportunidade do autocuidado: proteger-se sem
endurecer, manter-se atento sem se envenenar.
A revelação do outro também nos revela. Ensina
sobre os limites que devemos impor, sobre a força silenciosa de não reagir no
mesmo tom, e sobre a importância de cultivar uma lucidez serena. Se o inimigo
se revela, o maior aprendizado está em perceber que, no fundo, o poder de
escolha é sempre nosso: seguir na trilha da paz, com consciência,
prudência e dignidade.
SUPERFICIALIDADE
Me incomoda a superficialidade que se veste de
encanto, o sorriso que esconde a verdade dos olhos, o abraço que camufla ou
disfarça a coragem de encarar responsabilidades dos atos. Dá nojo, pessoas que
constroem versões de si mesmas com exageros e contradições, como se a narrativa
inventada pudesse sustentar-se no tempo. Não suporto o teatro das palavras
encantadoras, recheadas de fantasias irreais e exaltações forçadas, onde tudo
parece maior do que é, mais brilhante do que pode ser. Há quem insista em forjar
proximidades como quem impõe verdades, acreditando que todos ao redor
permanecerão cegos às incoerências.
Mas sempre existe quem observe. Quem percebe as
brechas, os deslizes, os detalhes escondidos nas entrelinhas. Porque por trás
do discurso rebuscado e da história perfeita, a verdade se revela silenciosa.
E, no fim, o encanto desmedido perde a força diante da lucidez de quem enxerga
além da máscara.
Prefiro a realidade da minha verdade, aquela
que não precisa de adornos ou encenações para existir. A simplicidade que se
revela nas entrelinhas da minha essência é suficiente, porque o que é autêntico
não necessita de aplausos nem de testemunhas para se sustentar. A verdade não
grita, não se impõe, apenas permanece — firme e constante.
A grandeza está em ser inteiro, mesmo nas
imperfeições. É na transparência dos gestos, na coerência das palavras e na
clareza das atitudes que se reconhece quem realmente é. Não me interessa o
espetáculo das ilusões, tampouco a maquiagem das mentiras bem contadas.
Interessa-me a serenidade do que é real, mesmo que simples, mesmo que
imperfeito. Porque no fim, é sempre a verdade que ecoa mais forte e
resiste ao tempo.
DESCANSA
Só hoje descansa, desacelera e deixa que tudo
continuará no mesmo lugar. Que a água vai fluir do mesmo jeito, que a chuva vai
parar quando diminuir a intensidade. Que as horas vão levar o sol forte do meio
dia. Que o tempo romperá aquela dor que insiste em ficar. Que a vida entregará
exatamente o que for teu. Descansa, acalma teus pensamentos e tranquiliza teu
coração. Usa a emoção a teu favor e não estraga a paz que o descanso te
presentear. Faz apenas o que estiver ao teu alcance e se permita viver um dia
de cada vez, sem a necessidade de viver tudo agora, pois a beleza está na dança
suave que a espera proporciona e na sutileza que o
amanhã faz acontecer.
PAUSA
A importância da pausa é algo que, tantas
vezes, deixamos escapar em meio ao turbilhão da vida. Corremos atrás de prazos,
de expectativas, de ideais que parecem sempre estar além do nosso alcance. E,
nessa pressa, esquecemos de um detalhe essencial: nós mesmos.
A pausa não é ausência, não é perda de tempo. É
presença. É o instante em que nos permitimos respirar fundo, reconhecer nossos
limites e ouvir a voz suave que existe dentro de nós. Pausar é respeitar a
própria humanidade, é admitir que não somos máquinas programadas para produzir
sem descanso, mas seres que sentem, que precisam de silêncio, de descanso, de
cuidado.
É nesse intervalo que o pensamento amadurece,
que o coração se aquieta, que a alma encontra abrigo. Uma simples pausa pode
ser a diferença entre a exaustão e a renovação, entre a pressa e o propósito.
Pode ser um café tomado sem culpa no meio da tarde, um olhar demorado para o
pôr do sol, um momento de gratidão por simplesmente existir.
A pausa é também um convite ao
autoconhecimento: reconhecer nossas fraquezas, acolher nossas dores e, ao mesmo
tempo, celebrar as pequenas alegrias que o cotidiano nos oferece. É nesse
espaço de suspensão que se revela a força de recomeçar, de mudar um pensamento,
um sentimento, uma atitude.
Porque parar não é desistir. É, ao contrário, o
gesto mais sábio de quem entende que só pode seguir adiante quando aprende a
escutar o próprio corpo, o próprio coração e o próprio tempo. Pausar é um ato
de amor, de coragem e de liberdade.
"REFLEXÃO SOBRE A
REALIZAÇÃO DE UM SONHO E O MERECIMENTO”
Alcançar a realização de um sonho é
experimentar um dos sentimentos mais sublimes da existência humana. É como
tocar o céu com as mãos depois de uma longa caminhada, repleta de desafios,
incertezas e persistência. Quando um sonho se concretiza, o coração se enche de
uma alegria serena, aquela que só quem lutou com verdade conhece. Nesse
momento, a gratidão floresce naturalmente — não apenas pelas conquistas, mas
por cada passo, por cada aprendizado, por cada pessoa que fez parte da jornada.
A sensação de merecimento não vem da soberba,
mas da consciência de que o esforço, a fé e a entrega foram verdadeiras.
Sentir-se merecedor é reconhecer com humildade o próprio valor, sem ignorar a
graça que nos acompanha. Como disse Paulo Freire: "É preciso ter
esperança, mas ter esperança do verbo esperançar. Porque tem gente que tem
esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperançar é se levantar, é ir
atrás, é construir, é não desistir!"
Hoje, mais do que uma vitória, celebramos a
certeza de que sonhos não são apenas desejos distantes — são sementes que,
quando regadas com amor, fé e coragem, florescem no tempo certo. Gratidão por
cada instante, por cada aprendizado, e por ter acreditado que
sim, era possível.
LIBERDADE X DEPENDÊNCIA
EMOCIONAL
A Liberdade de Ser: Entre a Prisão da
Dependência e o Voo da Independência Emocional
A dependência emocional é uma prisão invisível.
Sem grades, sem trancas, mas com algemas que apertam a alma. Ela nasce do medo
da rejeição, da carência afetiva, da falsa ideia de que só somos inteiros
quando amados por outro. E, assim, vamos nos diminuindo, adaptando nossos
desejos para caber nos moldes do outro, acreditando que a aprovação externa é o
selo do nosso valor.
Viver sob a dependência emocional é andar em
círculos, sempre esperando algo que venha de fora para preencher o vazio de
dentro. O amor próprio se torna refém, o silêncio do outro vira tortura, e a
solidão, uma ameaça constante. Como diz Carl Jung: "Quem olha para fora
sonha, quem olha para dentro desperta." A verdadeira libertação começa
nesse olhar interno — quando entendemos que ninguém tem o dever de nos
completar, porque já somos inteiros.
"DAR CONTA"
Quantas vezes nos encontramos consumidos por
essa exigência silenciosa de sermos capazes de tudo, de sermos completos, de
termos sempre uma resposta pronta, de cumprirmos todas as nossas obrigações, de
sermos eficientes, infalíveis e incansáveis? Em uma sociedade que nos cobra
desempenho e produtividade a cada segundo, fica difícil escapar da pressão de
"dar conta" de tudo, inclusive de nossas próprias emoções, limitações
e fragilidades.
A verdade é que essa imposição de dar conta de
tudo é uma armadilha disfarçada de responsabilidade.
Culpamo-nos por não sermos perfeitos, por não
conseguirmos abraçar o mundo com as mãos e ainda manter um sorriso no rosto. A
cobrança interna é tão pesada que, muitas vezes, não percebemos que o simples
fato de existir já é uma tarefa monumental. A fadiga mental, o esgotamento
emocional, a sobrecarga física: essas coisas não são falhas, são humanos. E no
entanto, não podemos mais ser humanos, não podemos ser vulneráveis. A
vulnerabilidade se tornou um pecado, e o descanso um luxo que poucos podem
pagar.
Mas e se… e se o direito de não dar conta fosse
uma realidade possível? E se a fragilidade fosse uma virtude e não uma
fraqueza? A frase de Rainer Maria Rilke, poeta e filósofo, ressoa
profundamente: “O que está em nossas mãos fazer, está em nossas mãos também
deixar.” Permitir-se descansar, desacelerar, parar de lutar contra a maré
implacável da exigência, isso é um ato de coragem. Às vezes, dar conta de tudo
é, na verdade, negar a si mesmo a chance de ser inteiro, de ser real, de ser um
ser humano sem pressões externas que distorcem nossa própria essência.
Nós não precisamos ser as respostas de todas as
perguntas, os realizadores de todos os sonhos. Não devemos carregar o peso de
um mundo que insiste em nos julgar pelo que fazemos e não pelo que somos. É
essencial nos permitirmos a dádiva de não dar conta, de soltar, de abandonar,
de deixar para trás a necessidade de agradar a todos e de sermos tudo para
todos.
É preciso redefinir o que significa ser capaz.
Ser capaz não é dar conta de tudo. Ser capaz é saber quando descansar, quando
reconhecer o limite e aceitar que não precisamos ser perfeitos para sermos
dignos. Às vezes, a maior força reside no ato de não fazer nada
“POR QUE EU SEMPRE PRECISO
ENTENDER?”
É uma pergunta que ecoa em nossa mente como uma
imposição silenciosa, uma constante demanda interna de fazer sentido de tudo.
Entender se tornou uma obrigação, um sacrifício, uma forma de evitar o
conflito, de manter as águas calmas, de ser aquele que nunca falha em
compreender, em aceitar, em se adaptar.
Mas e se a compreensão não for a única forma de
nos relacionarmos com o mundo? E se, por um dia, a necessidade de entender for
deixada de lado, sem culpa, sem julgamento? Hoje, eu não quero entender. Não
quero procurar respostas para tudo, não quero justificar sentimentos, atitudes
ou escolhas. Não quero ver o lado bom, o motivo racional, ou o porquê de cada
palavra dita e de cada gesto feito.
O peso de sempre compreender, de sempre
aceitar, de sempre seguir o fluxo, pode ser exaustivo. A sensação de que, se
não entendemos, nos tornamos culpados, nos tornamos insensíveis, egoístas.
Estamos presos a essa ilusão de que é nossa responsabilidade entender para não
decepcionar, para não causar desconforto, para ser o porto seguro. Mas, por que
devemos ser os que entendem o tempo todo? O que há de errado em não
compreender, em ser imperfeito, em ser incompleto, em, ao menos por um momento,
não carregar o peso do entendimento?
Nietzsche nos provoca: “Aquele que luta com
monstros deve ver para que não se transforme em um monstro. E se você olhar
longamente para um abismo, o abismo olhará para você.” A busca incessante por
entender o que não precisamos entender pode nos transformar em algo que nunca
fomos: seres que sempre buscam respostas, que se perdem na necessidade de se
ajustar ao outro, de se moldar às circunstâncias, de se tornarem algo que não
são. Ao tentar entender tudo, acabamos por perder a essência de nosso próprio
ser.
Hoje, por um instante, não quero entender. Não
quero saber o motivo de cada escolha alheia, nem compreender cada dor que não é
minha. Não vou me culpar por não querer entender. Às vezes, a melhor resposta é
o silêncio, o espaço, o não saber. Porque não é necessário entender tudo para
ser digno, para ser real, para ser inteiro.
"Não entenda, apenas viva." É um
direito legítimo, um grito de liberdade, de descanso. De saber que nem tudo
precisa ser resolvido ou explicado. Às vezes, a resposta está no simples não
querer entender.
EM CONSTANTE CONFLITO
Quantas vezes a vida se resume a esse
emaranhado de dúvidas, de incertezas, de questionamentos que se repetem
incessantemente, sem fim. Somos reféns de nossas próprias indecisões,
prisioneiros de um ciclo vicioso de querer entender, de buscar respostas, de
procurar por soluções que, muitas vezes, não vêm. O conflito interno não é
apenas uma batalha contra as escolhas erradas, mas contra o próprio peso que
nos colocamos ao tentar controlar tudo, ao tentar ser tudo.
"Em constante conflito," você
escreveu. E é isso o que somos, seres humanos em busca de algo que nem sempre
sabemos definir, mas que sentimos com profundidade: a necessidade de sermos
inteiros, de sermos coerentes, de sermos certos. E, nesse desejo, nos tornamos
reféns das nossas próprias cobranças. A indecisão surge como um reflexo de uma
realidade crua, onde não sabemos, muitas vezes, se o que escolhemos será o
melhor, ou se estamos apenas tentando seguir um caminho que nos foi imposto,
talvez até inconscientemente, pela nossa ideia de sucesso, de perfeição, de
aceitação.
Mas "está tudo bem," e essa é a parte
que nos falta entender. Está tudo bem sermos seres em busca de
autoconhecimento, de nos perdermos para nos encontrarmos. Está tudo bem não ter
todas as respostas, não ter certeza do que virá a seguir. Talvez a libertação
não esteja em sempre encontrar o caminho certo, mas em aceitar o próprio
conflito como parte do processo, como parte da nossa evolução.
Nietzsche já dizia: “Quem tem um porquê para
viver pode suportar quase qualquer como.” Esse "porquê" não precisa
ser uma certeza, uma verdade cristalizada. O "porquê" é a nossa
busca, é a nossa coragem de seguir mesmo sem saber o destino exato. Ele está em
aceitar a dúvida, em aprender a conviver com as contradições internas, sem a
obrigação de resolver tudo agora. Em vez de ver a indecisão como fraqueza,
podemos vê-la como uma oportunidade para explorar mais profundamente nossas
escolhas, para entender nossas limitações e, com isso, nos aproximarmos de quem
realmente somos.
QUANTO MEDO
O medo de não decepcionar. Uma sombra que paira
sobre nós, sutil, mas constante, exigente. Vivemos com essa sensação de que, se
não atendermos às expectativas dos outros, falharemos não só com eles, mas com
a própria vida. Somos condicionados a achar que a nossa validade está
diretamente ligada ao quanto conseguimos agradar, ao quanto conseguimos cumprir
o que os outros esperam de nós. No entanto, essa busca incessante por não
decepcionar o outro tem um preço — o preço da nossa própria autenticidade, da
nossa verdade.
Em nossa tentativa de não falhar, de não
desagradar, acabamos nos perdendo de nós mesmos. Sacrificamos nossas
necessidades, nossos desejos, nossas paixões, tudo para manter a imagem que os
outros esperam de nós. E, no fim, quem estamos realmente decepcionando? A quem
estamos realmente falhando? A resposta é dura, mas essencial: nos decepcionamos
com nós mesmos. A verdadeira decepção não é a que causamos aos outros, mas a
que cultivamos internamente ao abandonar nossos próprios sonhos e sentimentos
para agradar aos outros, ao mundo, à vida que imaginamos que deveríamos ter.
Essa desconexão consigo mesmo, essa entrega
constante ao outro, gera uma sensação de vazio, uma inquietação interna, uma
sensação de estar sempre à margem de quem realmente somos. E essa sensação se
torna mais forte quando percebemos que, ao tentar evitar a decepção externa,
criamos uma profunda decepção interna. Somos como espelhos quebrados,
refletindo imagens do que os outros esperam, mas nunca a verdadeira essência de
quem somos.
Simone de Beauvoir nos alerta: "Não se
nasce mulher, torna-se mulher." E se adaptássemos essa reflexão para a
busca de identidade no mundo moderno? Não se nasce para os outros, torna-se
para os outros. Mas, para que essa construção seja verdadeira, é preciso que
haja um equilíbrio, um espaço onde possamos nos definir também por nossas
próprias escolhas, onde a expectativa externa não seja mais forte que nossa
própria autenticidade.
O medo de decepcionar os outros é um reflexo de
nossa busca por pertencimento, por aceitação, mas também é um grande obstáculo
para o autoconhecimento. Se estamos constantemente preocupados em não falhar
com os outros, podemos perder o que é mais importante: a chance de falhar com
nós mesmos, para então acertar em nossa própria jornada. A liberdade não está
em agradar a todos ao nosso redor, mas em agradar a nós mesmos, em sermos fiéis
ao que realmente somos.
O que nos impede de decepcionar os outros é,
muitas vezes, o medo de não sermos suficientes, de não sermos dignos de amor ou
respeito se não atendermos a todas as expectativas. Mas a verdadeira decepção,
a mais cruel, é aquela que vem da falta de amor-próprio, da falta de aceitação
de quem somos, com nossas imperfeições, com nossas falhas. Nos decepcionamos
quando deixamos de ser quem somos por medo de não sermos amados.
ALGO NOVO
Eu preciso tentar algo novo. Preciso me
arriscar, ultrapassar as fronteiras do conhecido, romper as paredes do conforto
que, embora acolhedoras, me aprisionam. O conforto é sedutor, é verdade, mas
ele também nos torna cegos às infinitas possibilidades que existem além da
janela que escolhemos olhar. Ele nos oferece segurança, mas também nos impede
de ver o horizonte além, de viver a aventura da incerteza, da descoberta, do
novo.
A vida não se resume ao que é previsível, ao
que nos mantém em uma zona de controle onde nada realmente surpreende. Ao
contrário, é no desconhecido, na ousadia de dar um passo sem saber exatamente o
que virá, que encontramos o verdadeiro poder da existência. A felicidade não é
uma terra prometida onde chegamos sem esforço; ela é uma jornada, uma busca
constante que exige coragem para arriscar, para falhar, para começar de novo.
“Se você quer algo que nunca teve, precisa
fazer algo que nunca fez.” Essa citação de Albert Einstein nos lembra que a
mudança não acontece dentro da zona de conforto, mas na ousadia de ir além. O
novo, o inesperado, o desconhecido — são eles que guardam as sementes das
transformações que tanto desejamos. E é preciso estar disposto a correr o risco
de se perder para, eventualmente, se encontrar.
Eu preciso me arriscar, ir além do que é
confortável, ir além de mim mesma. É no desconforto que moram as lições mais
valiosas, os aprendizados mais profundos. O medo do desconhecido é natural, mas
não deve ser um impedimento. Ele é um sinal de que estamos prestes a
ultrapassar os limites do que já sabemos, do que já somos, e é exatamente isso
que nos torna mais vivos.
A felicidade não está em fugir da dificuldade,
mas em abraçar a aventura que ela oferece. Em ir além das certezas e me jogar
no vasto e imprevisível campo das possibilidades. E se falharmos? Então, que
falhemos com coragem, com a consciência de que ao tentar, ao nos arriscarmos,
ao ousarmos viver a vida em sua plenitude, já estamos mais perto de descobrir o
que realmente nos faz felizes.
“Só se vê bem com o coração. O essencial é
invisível aos olhos.” Antoine de Saint-Exupéry, no clássico O Pequeno Príncipe,
nos lembra que o que realmente importa não está visível à primeira vista. Às
vezes, é preciso sair da janela, olhar além, arriscar-se no desconhecido para
encontrar aquilo que não podemos ver de dentro da nossa zona de conforto.
E então, ao tentar algo novo, ao me arriscar,
estou buscando não apenas novas aventuras, mas a verdadeira liberdade — aquela
que nasce quando rompemos as barreiras do medo, da dúvida, e simplesmente
decidimos viver.
TE
ACHEI E TE PERDI...
Percorri
ruas, bares, mares de areia, mergulhei fundo na imensidão do céu de estrelas,
tentando ver se via você.
Não
encontrei, mas sussurrei, baixinho, para a lua, pedindo que, se avistasse
beleza igual não hesitasse em me dizer que viu você ali passar.
Sei
lá, por onde, perto ou distante, lugar incerto, talvez tão certo, só eu não
sabia como fazer para te encontrar.
Subiria
montanhas, correria na praia, morreria de sede em algum deserto.
Só
sei, de certo, que viveria aquela história que um dia sonhei viver — perto ou
longe, mas com você.
Te
achei e deixei fugir, seguir os passos que outrora marcaram a hora em que te
encontrei.
Não
sei... nem sei se irei sentir a alegria de reviver aquele dia em que te vi,
toquei teu corpo e te perdi.
Estou
aqui, luar da lua, só mais um dia peço sua ajuda para esse rosto eu ver passar.
Só não
permita que nos percamos.
Não
suportaria nem mais um dia longe do brilho que, em teu
olhar eu viveria.
Helena Martins.
(22-09-25)
REFLEXÃO
DO DIA
Nos
meus tempos na função de Administradora, sempre flutuava em meus pensamentos
esta reflexão, justamente para autoanálise sempre que necessário. Isso é
inteligência profissional.
Existe
uma diferença marcante entre a postura de um líder e a de um chefe. O líder é
aquele que inspira pelo exemplo, conquista respeito pelo mérito e conduz com
sabedoria, buscando unir pessoas em torno de um objetivo comum. Ele fortalece o
grupo porque compreende que o verdadeiro poder está na colaboração e na
confiança mútua.
Já o
chefe, muitas vezes, impõe respeito pela força do cargo, pela pressão e pelo
autoritarismo. Não raro, recorre a fofocas, comparações ou atitudes que geram
rivalidade, criando atritos e enfraquecendo os laços dentro da equipe. Sua
postura espalha, divide e mina o espírito coletivo.
Enquanto
o líder constrói pontes, o chefe levanta barreiras. O líder motiva e promove
crescimento, o chefe controla e limita. No fim, a diferença não está apenas no
título, mas na forma como cada um escolhe deixar sua marca: pela união ou
pela desagregação.
Helena Martins.
(22-09-25)
Muito bom! Me fez pensar a forma como vejo as coisas, espero um dia ler mais obras dessa autora!
ResponderExcluirMatheus, agradeço a visita e o comentário. Seja sempre bem-vindo!
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